Amamentação
-aspectos psicológicos
De modo geral, as futuras mamães têm a
informação de que é importante amamentar o seu futuro bebê. Porém, a nível
emocional, as dificuldades no decorrer do processo, ou seja, na prática,
aparecem freqüentemente.
Muitos estudos e experimentos científicos
comprovaram que, através da amamentação, mãe-filho têm maior oportunidade
de envolvimento e aprofundamento afetivo.Psicologicamente, ocorre uma
redução do efeito traumático da separação provocada pelo parto. Portanto,
a amamentação não é apenas um processo fisiológico de amamentar o bebê,
mas envolve um padrão mais amplo de comunicação psicossocial entre mãe e
bebê.
Pesquisas recentes têm demonstrado
a superioridade do leite materno em todos os aspectos. Do ponto de vista
psicológico, um dos aspectos mais relevantes para mim é: a mãe que
amamenta, possibilita ao seu bebê, além das vantagens nutritivas do leite
materno, o
contato epidérmico
fundamental para seu desenvolvimento.
Para Maldonado (1981) é através deste
contato que a criança relaciona-se com o mundo, abrindo-se para novas
experiências. É este contato corporal que constitui a origem principal do
bem-estar, segurança e afetividade, dando ao bebê a capacidade de procurar
novas experiências.
Ocorre, porém, que uma série de fatores,
um conjunto de atividades, necessita existir e se manifestar para que a
amamentação ocorra com sucesso.
Quando a mãe está cercada de pessoas que
conseguem ajuda-la e apóia-la, sem desqualificar suas capacidades de
cuidar do bebê, os sentimentos de autoconfiança e satisfação emocional
aumentam. Conseqüentemente, o reflexo de liberação ocorre e a produção de
leite é satisfatória. Assim, é importante a existência de um ambiente
familiar favorável que transmita encorajamento.
No entanto, observa-se comumente atitudes
críticas, desencorajadoras e pouco confiantes por parte de parentes e
amigos da puérpara, especialmente no que se refere à sua capacidade de
amamentar; é freqüente que, diante de qualquer coisa peculiar que aconteça
ao bebê, as primeiras suspeitas recaiam sobre o leite materno (“é fraco”,
“provoca cólicas”, “dá diarréia” ou “dá prisão de ventre”, etc.),
carregando implicitamente uma mensagem de inadequação para a mulher como
mãe com o efeito geral não só de inibir a lactação, através da ansiedade,
como também prejudicar muitas vezes outras funções maternais,
comprometendo o estabelecimento de uma ligação boa e tranqüila (Maldonado,
1981).
As emoções afetam a lactação através de
mecanismos psicossomáticos específicos. Calma, confiança e tranqüilidade
favorecem um bom aleitamento; por outro lado, medo, depressão, tensão, dor
, fadiga e ansiedade tendem a provocar o fracasso da amamentação (Maldonado,
1981).
Observa-se também que o curso do
aleitamento será determinado, em grande parte, por fatores tais como: o
medo de perder a estética dos seios com a amamentação; ou ainda, na raiz
de muitos casos, encontra-se uma dissociação entre maternidade e sexo: a
mulher que não amamenta por considerar os seios como símbolos sexuais e a
amamentação como algo “puro”, destituído de sensualidade; e a mulher que
amamenta, mas deixa de utilizar os seios como fonte de prazer erótico,
empobrecendo sua sexualidade.
A maior incidência da alimentação
artificial e a altíssima percentagem de fracasso nas tentativas de
amamentar refletem não só mudanças tecnológicas e sociais mas, também,
certamente, o caráter anti-instintivo e esquizóide da nossa época, em que
os afetos e a proximidade emocional são tão temidos.
É nesta tendência que se inserem o parto
sob narcose, a cesária a pedido e a secagem artificial do leite (Maldonado,
1981).
Um outro fator que faz com que a
amamentação seja vivenciada de forma tão assustadora por várias mulheres é
o medo de “ficar presa”, pois a mamadeira pode ser administrada por
qualquer pessoa. E ainda, a mamadeira simboliza um objeto intermediário
que lhes dá segurança de um certo grau de afastamento e não envolvimento.
Acredito que, principalmente a mulher que trabalha fora, especialmente as
profissionais autônomas que geralmente não podem desfrutar dos meses de
licença gestante, uma vez que um afastamento mais prolongado do trabalho
pode comprometer o orçamento, fiquem ansiosas para voltar ao estilo de
vida executivo e acabam adotando a alimentação artificial por não
conseguirem estruturar o tempo incluindo amamentação e trabalho.
No entanto, muitas são as alternativas
para estruturar e conciliar a volta às atividades profissionais com a
amamentação.
Minha sugestão para que as futuras mamães
não sejam surpreendidas com dificuldades que só vão conhecer
verdadeiramente quando o bebê chegar, é realizar durante a gestação um
trabalho complementar de orientação psicológica, onde terão oportunidade
de obter mais informações sobre si mesmas, sobre as dificuldades mais
comuns e como administra-las de forma a possibilitar um início de vida
saudável para o bebê e um puerpério o mais tranqüilo possível.
Na minha experiência clínica, observo que
normalmente as preocupações da gestante voltam-se mais freqüentemente para
o enxoval, decoração do quarto, espaço físico, qual nome escolher para o
bebê, etc. Enfim, são poucas as gestantes que valorizam e procuram um
acompanhamento psicológico para garantir uma gestação, parto e puerpério o
menos estressante possível, tirando proveito desta agraciada etapa da vida
de uma mulher, para amadurecer como ser humano e para garantir que o seu
bebê desfrute o máximo possível de equilíbrio, harmonia e saúde mental.
Kátia Ricardi de Abreu, Psicóloga graduada
pela PUCCAMP, especialista clínica em Análise Transacional pela ALAT e
UNAT-Brasil, consultora de empresas, palestrante e escritora
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