27 de agosto - Dia do Psicólogo
Posso desabafar?
 

Sinto muito orgulho por ser uma psicóloga, pois se trata de uma profissão que vende um produto subjetivo, difícil de ser comprado. Durante muito tempo, resisti me ver como uma vendedora. Mas o empreendedorismo me ensinou que é o que sou.
Nós psicólogos, vendemos o nosso tempo e conhecimento em benefício do desenvolvimento pessoal e profissional das pessoas que compram nossos serviços. Elas se transformam, se descobrem, se desenvolvem, e muitas vezes acabam até mesmo não reconhecendo o valor daquilo que compraram. Atribuem a outros fatores ocasionais as transformações ocorridas por ausência de instrumentos mensuráveis dentro do setting terapêutico. Outras conseguem distinguir a contribuição do produto comprado e até recomendam.
Dedicar-se à alma humana é uma vocação. Ninguém que não a possui consegue permanecer durante muito tempo neste ofício, que envolve muita renúncia. A carência vai ficando cada vez maior, à medida que os anos passam. Carência de alma, de contato humano, diante do exercício profissional com o ser humano, é um verdadeiro contra senso. Mas é o que eu posso dizer que acontece, depois de duas décadas no exercício desta profissão.
Cada cliente que chega é um mistério a ser lapidado, se ele se permitir. Muitos desistem no meio do caminho, principalmente diante de tantos outros produtos hoje existentes no mercado, prometendo bem-estar de forma mais ilusória e fácil.
A prática desta profissão me fez incomum e as vantagens existenciais são relacionadas à macro visão, que às vezes ajuda, às vezes atrapalha. Eu me esforço a todo instante para ser existencialmente comum, querendo resgatar meu lugar no plano dos simples mortais que podem tudo. Podem ter amigos, não só clientes. Podem ser frágeis de vez em quando, podem pedir colo, não somente dar colo; podem errar. Podem chegar atrasados de vez em quando na hora marcada que não é terapêutica, podem dormir sem se preocupar se sonham ou não.
Conquistamos um espaço e um respeito tal que até mesmo para sermos incoerentes, temos que planejar uma coerência aceitável, pois tudo aquilo que construímos pode ficar arranhado diante de nossos atos simplesmente humanos. Exageramos na forma como transmitimos a nossa imagem e agora temos que dar conta de resgatar a nossa condição de comuns.
Então, ser psicólogo é ser extremamente humano com os humanos sem esperar que os humanos nos vejam como tais. Reverter este quadro é a minha esperança de conquista para a minha próxima década.

Kátia Ricardi de Abreu, Psicóloga graduada pela PUCCAMP, especialista clínica em Análise Transacional pela ALAT e UNAT-Brasil, consultora de empresas, palestrante e escritora