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			SOFRER 
			“Pai, afasta de mim este cálice, Pai
 De vinho tinto de sangue”
 Chico Buarque
 
 
			Sofrer. Verbo regular. Padecer, 
			suportar, aturar, afligir-se. Sofrer do coração, sofrer com 
			separação, sofrer com saudades, sofrer um acidente, choque, 
			decepção, perda, humilhação, dor física ou moral. Todos sofremos, de 
			uma forma ou de outra, em algum momento na vida. Sem sofrimento, não 
			há amadurecimento, crescimento interior, desenvolvimento psicológico 
			e espiritual. Esta é a colheita da dor. “Lamentar uma dor passada, no presente é criar outra dor e sofrer 
			novamente”, dizia o pensador William Shakespeare. Isso é sofrer por 
			sofrer, sem nada colher. Estacionar na etapa da dor no processo de 
			sofrimento, sem agregar paciência, sabedoria, é não digerir o 
			sofrimento, não fazer a faxina dos sentimentos que ficam como lixo 
			deteriorado fazendo mal à alma acarretando mais sofrimento.
 É possível permanecer feliz, mesmo diante do sofrimento. Isso é 
			saber sofrer. É acrescentar alívio à dor ao mesmo tempo em que a 
			sentimos. É estar disposto a superá-la, olhando-a de uma forma 
			diferente, reconstruindo-se a partir desta dor. É administrar os 
			acontecimentos com resignação. É ficar de bem com a vida, mesmo 
			quando os ventos não são favoráveis.
 Muitos erros levam às grandes descobertas. Muitas dores levam às 
			transformações positivas. Depende da forma como reagimos diante do 
			sofrimento.
 A tragédia que assola nosso país com a fúria das águas em várias 
			cidades, principalmente na região serrana do Rio de Janeiro é uma 
			dura prova de dor. Histórias reais de grandeza, heroísmo, 
			desprendimento, otimismo, me convencem sobre a capacidade do ser 
			humano de ser mais forte que a dor. Sempre nos orgulhamos de não 
			termos passado por uma guerra. Agora, estamos perplexos diante de 
			mortes provocadas por bombardeios da natureza.
 Procuro imaginar como é a vida de quem, de uma hora para outra não 
			tem uma casa para voltar, uma família para reencontrar no final do 
			dia. Procuro imaginar como é a vida de quem dormiu cansado, após um 
			dia de trabalho e acordou com a própria cama boiando. Procuro me 
			colocar no lugar dos sobreviventes que sofrem dores físicas e 
			emocionais diante de mortes físicas e psíquicas. Impossível.
 Estes personagens da vida real, sobreviventes destas dores, perdas, 
			sofrimento nunca imaginado, um dia nos contarão suas histórias de 
			reconstrução de suas vidas. Hoje, eles nos contam entre soluços e 
			lágrimas o drama do seu sofrimento na mais dura etapa do processo.
 Então, meu amigo, se você está estacionado diante do seu sofrimento, 
			não fique aí não. Siga adiante, mude de etapa, toque a vida e 
			acredite que seu sofrer é legítimo, mas superável. Bola pra frente!
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