O PÁLIDO PONTO AZUL

Recebo de um amigo a recomendação para assistir o vídeo hospedado no youtube (http://www.youtube.com/watch?v=EjpSa7umAd8), onde durante 5:58 minutos, o astrônomo Carl Sagan nos convida para uma viagem fantástica, com o ponto de partida e de chegada num lugar que não deveria ser estranho: nossa essência. O Planeta Terra, pálido ponto azul no Universo, é a morada das nossas vidas. Sagan mostra o quanto se torna medíocre nossas vaidades terrenas e atitudes mesquinhas, diante da imensidão do cosmos. Podemos amar ou odiar, construir ou destruir, somar ou dividir. O poder de cada um pode ser usado para o bem ou para o mal. É uma escolha. Logo em seguida, recebo outro e-mail (nada é por acaso!): uma internauta de Salvador-BA solicita minha ajuda para desenvolver seu trabalho de pós-graduação sobre assédio moral. Assunto da moda nos meios acadêmicos de ciências humanas, assunto antigo nos meios profissionais, sociais e até familiares.
Ana (nome fictício) sente dores no estômago quando vai a uma festa. Ela quer se divertir, mas ao mesmo tempo, sente desconforto quando algumas pessoas a ignoram, nem sequer a cumprimentam. Gabriel (nome fictício) sente vontade de participar da rodinha que acontece no refeitório da empresa durante o almoço. Mas o líder do grupo informal faz brincadeiras agressivas quando ele se aproxima; uma dor de cabeça aparece em seguida; Gabriel se desconcentra e comete erros que prejudicam a ele e a empresa.
Trata-se de uma manifestação agressiva ou passivo-agressiva intencional, que vai do mais insignificante beijinho em apenas uma pessoa (quando a outra que está ao lado não o recebe) até humilhações que comprometem a saúde psíquica dos assediados, pois a saúde psíquica do assediador já está comprometida.
É uma série de iscas para jogos envolvendo relações desumanas, onde o prazer de um necessariamente é o mal-estar do outro, alvo escolhido para ataques de reafirmação do seu pseudopoder. Identificar um assediador é o primeiro passo para proteger sua saúde. O segundo passo é não morder as iscas.
A mensagem transmitida por Sagan é o passaporte para a interrupção de processos tóxicos de comunicação social; a tomada de consciência da nossa insignificância seguida de um redirecionamento para a humanização nas relações interpessoais poderá render bons frutos para uma vida coerente com os ideais de bem servir a humanidade.
Transcender a discórdia em todos os níveis de comunicação, principalmente quando esta se apresenta diante de nós de forma camuflada por sorrisos destituídos de autenticidade, é adentrar-se na mais pura e renovada essência da própria alma, mergulhada tão profundamente na escala evolutiva, que não se permite vincular-se ao desequilíbrio daqueles que ainda insistem em subtrair-se de si!

Kátia Ricardi de Abreu, Psicóloga clínica e organizacional, graduada pela PUCCAMP, consultora de empresas, palestrante e escritora