Puxando o tapete... de quem, afinal?
Todo profissional interessado em se desenvolver acaba fazendo com que a
sua empresa cresça também, pois tudo o que ele faz em prol de seu
crescimento pessoal está repercutindo direta ou indiretamente no seu
trabalho. Portanto, quando cuidamos da aparência pessoal (estética,
vestimentas), da saúde física (alimentação, exercícios), da psicológica
(lazer, autoconhecimento, amizades saudáveis), da espiritualidade e do
equilíbrio como um todo, estamos agregando tal investimento à empresa, tal
qual quando aprimoramos nossos conhecimentos técnicos fazendo cursos e
outras atividades mais voltadas para a área intelectual.
Nos bons processos seletivos atuais, todas as áreas citadas acima são
pesquisadas na hora da contratação. Não são apenas os conhecimentos
técnicos específicos que determinam a escolha de um bom profissional, mas
sim as características desta pessoa como um ser humano total, com todas as
suas habilidades e aptidões pessoais. Creio que as aptidões específicas
são atualmente consideradas menos relevantes, pois isto pode ser
aperfeiçoado mais facilmente e mais rapidamente quando o profissional está
bem consigo mesmo.
Então, tal pessoa é inserida dentro da organização, com expectativas de
que possa dar um retorno positivo através de resultados concretos, por
ocasião do desempenho de suas funções no seu trabalho.
Tenho observado, através da minha experiência como facilitadora de cursos
que, ao mesmo tempo em que uma porta se abre, com uma permissão: "Venha,
apresente resultados positivos!", ela pode se fechar, com um duplo vínculo
nas relações de trabalho. Ou seja, a partir do momento em que o
profissional apresenta resultados positivos, bons o bastante (não é para
isso que ele foi contratado?), pode começar a nascer nas relações
interpessoais dentro da empresa um ruído psicológico na contramão da
permissão inicial, do tipo:
· "Cresça, mas não muito, não a ponto de me ofuscar";
· "Não me supere";
· "Exista, mas só para fazer aquilo que eu espero que você faça";
· "Fale, desde que não seja para discordar de mim";
· "Faça do jeito que eu faria se estivesse no seu lugar".
Inicia-se então, um processo esquizofrênico: ao mesmo tempo em que o
profissional é necessário, ele passa a incomodar porque está desempenhando
o seu papel, conforme foi combinado. Isso gera uma série de ações e
reações repetitivas, com uma comunicação em dois níveis: uma verbal,
socialmente aceita ("Venha!"), e outra não verbal, oculta e muitas vezes,
desonesta ("Não Venha!").
Ocorrem jogos de poder, intrigas, fofocas, distorções na comunicação e
boicotes com o objetivo de destruir, esmagar, expulsar, "puxar o
tapete"...de quem?
A empresa pode perder o profissional, que vai buscar oxigênio psicológico
em outro grupo de trabalho mais saudável. Mas, enquanto isto não acontece,
a empresa sofre as conseqüências do desgaste interno: queda de
produtividade, diminuição dos lucros, imagem pública prejudicada (sempre
"vaza" que trabalhar em tal lugar não é nenhuma maravilha!), entre outros
problemas. Sendo assim, todos os profissionais que compõem a empresa ficam
expostos aos danos que a "puxada de tapete" de um determinado indivíduo
pode acarretar.
O que fazer para não ser o "puxador do tapete"?
· Saber conviver com as pessoas competentes e aprender com elas, tendo-as
como modelo.
· Respeitar quem tem mais bagagem, por uma questão até cronológica.
· Exercitar a humildade e reconhecer que as qualidades dos outros não vão
anular as suas.
· Acreditar que somar é mais saudável do que dividir.
· Desistir de ser referencial para o que é certo. O diferente pode não ser
errado.
· Voltar-se para os objetivos da organização e para as metas a serem
alcançadas pela empresa como um todo.
· Estar aberto(a) para receber feedback.
· Cuidado com a insolência; lembre-se: o mundo já existia quando você
nasceu!
Geralmente este processo é desencadeado por um determinado indivíduo, que
vai trabalhando consciente ou inconscientemente o grupo. É o chamado
elemento desagregador, que não está voltado para a missão da empresa; está
voltado para si mesmo, sentindo-se ameaçado por mudanças, mesmo quando
estas são positivas. A contaminação vai se proliferando e no final todos
perdem. Todos, inclusive o tal indivíduo "puxador do tapete", que a bem da
verdade, acaba puxando o tapete dele mesmo, uma vez que ele está inserido
dentro da empresa.
Quando os membros de uma organização passam a gastar energia para
sobreviver dentro de um clima tóxico, o "tapete começou a ser puxado" e
quem está nele são todos os envolvidos, que perdem alguma coisa com isso:
perdem o sono, perdem o apetite, perdem a saúde, perdem a paz.
Passamos os melhores trinta e cinco anos de nossas vidas no trabalho. E
como é bom poder trabalhar tendo reconhecimento, valorização, cooperação,
e por que não, a paz!
Kátia Ricardi de Abreu, Psicóloga graduada
pela PUCCAMP, especialista clínica em Análise Transacional pela ALAT e
UNAT-Brasil, consultora de empresas, palestrante e escritora
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